Vejo meus dois netos mais velhos, cinco e seis anos, sobre os banquinhos de madeira, interessados em participar das atividades da cozinha. Um pouco é brincadeira, outro tanto é integração, fazer parte. A cozinha talvez seja o lugar em que mais me percebem em atividade. Fora, é claro, os espaços das brincadeiras e dos nossos jogos de videogame. Aos domingos, os almoços são um acontecimento. Com eles, ocultamos dos demais quais serão as sobremesas. Um segredo só nosso.
Vejo as mãozinhas ávidas em amassar o pão, mexer o bolo, cortar os biscoitos. Só um descuido e lá se vai um pedaço de massa crua para a boca. “Eu só queria provar”. Os dois aprenderam a evitar o contato com o forno, que pode estar quente. Mas se arriscam em ver quem pega primeiro o biscoito que acaba de ser assado e ainda precisa amornar um pouco.
O mais novo dos meninos, de dois anos e meio, adora a consistência da massa de pão, que espreme entre os dedos. Reivindica espaço pra participar. Pede colo para enxergar as panelas. E, boa boca, diz gostar disso, daquilo, na verdade, de tudo.
Ao me ver na cozinha sai com a frase costumeira: ‘Vovó, Neneco quer uma coisinha”. O que é a coisinha? Nem ele sabe. Abro a geladeira, ele examina o que tem dentro. Olha a fruteira, os armários. Se nada o atrai, pede um suquinho e corre para se divertir com qualquer brinquedo.
A mais nova de todos ainda não sabe pedir com palavras, gesticula e aponta para o pote de biscoitos. Por enquanto, seu único interesse.
Sinto o espaço da cozinha como um manancial de afeto. Saem dali os pratos prediletos de cada um dos filhos, noras, genro, netos, pais, marido e agregados. Os almoços de domingo lembram uma mega produção, que pode ter início no sábado e que no dia seguinte, ao chegar à mesa, desaparece em minutos. E tudo recomeça na semana seguinte.
A cozinha como manancial de afeto
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