Na hora de escolher o vinho para acompanhar pratos de inverno, mais encorpados, apimentados ou mesmo cremosos, o que harmonizaria melhor? Mesmo que geralmente se pense em vinhos tintos para essa parceria, os brancos muitas vezes podem ser uma boa opção. Basta levar em conta as características da bebida e da comida.
Lembre-se que a harmonização tem por objetivo equilibrar as características da comida e do vinho, completando as qualidades de ambos e elevando o nível da experiência em termos de aromas, sabores e texturas. Mas que, acima de tudo, como em qualquer relacionamento, o prazer vai depender de escolhas estritamente pessoais.
Os brancos
Chardonnay
Pode ser leve, frutado, untuoso e complexo (pela passagem em carvalho). Harmoniza bem com a maioria dos frutos do mar encorpados (lagosta, camarão) e devem não ter passado por carvalho quando servidos com mexilhões ou ostras. Receitas com manteiga, creme de leite, queijos derretidos e polenta combinam com esse vinho. Outra boa parceria são o cogumelo salteado na manteiga e as massas com molhos leves. Polvo com molho denso aceita bem um Chardonnay estagiado em carvalho. Os encorpados e com madeira dificilmente harmonizam com pratos apimentados, com especiarias, muito doces ou com ingredientes ácidos, como azeitona, alcaparra e tomate.
Sauvignon Blanc
Costumam ser vinhos perfumados, exuberantes, de corpo médio e acidez marcante. Por sua refrescância, tende a ser melhor quando jovem. Acompanha bem pratos com tomate, peixe com limão, comida thai, receitas com camarões, salada à base de queijo de cabra, pratos servidos com molho vinagrete, receitas com especiarias ou pimentas, molhos à base de manteiga ou creme, peixes grelhados simples, massas com frutos do mar. Evite servir com cebola caramelizada, alho assado, abóbora, receitas muito ricas em sabor e textura.
Gewürztraminer
Vinho aromático, combina com pratos com especiarias como curry, gengibre, cravo, canela e cardamomo. Pede cautela com o nível de pimenta. Acompanha bem queijos fortes, ingredientes defumados ou grelhados, pratos levemente frutados e adocicados, quiches e omeletes. Evite os pratos apimentados, os com ingredientes ácidos ou os muito doces.
Os tintos
Cabernet Sauvignon
Os jovens, com pouco estágio em madeira, costumam ser frutados e exuberantes. Harmonizando com pratos mais simples, carne grelhada, carne com longo cozimento, churrasco, pizza. Os amadurecidos, de guar- da, combinam com receitas mais requintadas, carne malpassada, carré de cordeiro com ervas. Evite os pratos delicados e sutis, os queijos fortes, a maioria dos peixes, os pratos muito condimentados e apimentados, risotos simples e a maioria dos chocolates.
Malbec
Vinho típico argentino, harmoniza com carnes vermelhas, principalmente as mal passadas e grelhadas na brasa, parillada e receitas com miúdos, cassoulet, pato confit, pizzas. Evite pratos mais salgados, receitas sutis, peixes e pratos com ingredientes ácidos.
Merlot
Esse vinho é um dos tintos mais populares, é redondo e frutado na boca, com taninos amigáveis. Faz boa companhia a cogumelos, ervas frescas, grelhados e defumados, porco ao molho de mostarda. Salmão, camarões, atum e vieiras podem combinar com Merlot. Receitas com cerejas, ameixas ou passas reproduzem os mesmos aromas presentes nesse vinho. Evite os queijos fortes ou azuis, pratos delicados e sutis, com especiarias apimentadas e risotos e massas com vegetais cozidos.
Pinot Noir
É um tinto de grande versatilidade na harmonização com comida. O Pinot Noir combina com pratos temperados com especiarias, com ingredientes defumados, grelhados ou tostados, com embutidos, queijos mais neutros, pratos da cozinha asiática, com vegetais cozidos, abóbora, lentilha, cebola, cogumelo. E até com atum e salmão. Evite peixes e frutos do mar mais fortes (anchova e sardinha), pratos ou molhos ricos (com muita quantidade de manteiga, creme ou maionese), pratos apimentados e queijos de aromas fortes.
Syrah
Esse tinto varia muito conforme a região de origem. Pode ser potente ou macio, defumado ou frutado, minerais, doce ou austero. Pode ser par perfeito para grelhados, ragus, caças, pratos temperados com ervas e há quem os indique para acompanhar churrasco. Evite a maioria dos peixes, apesar de os mais leves poderem harmonizar com atum, salmão ou um peixe ensopado. Receitas apimentadas e muito ácidas não vão bem com os Syrah. Assim como os queijos azuis.
Tannat
É uma variedade difícil. Os vinhos costumam ser potentes e de graduação alcoólica elevada. Entre as harmonizações possíveis, carnes vermelhas, caça, churrasco, cassoulet, feijoada, rabada, ossobuco. Evite carnes leves, peixes, filé mignon, pratos mais salgados.
Com essas dicas, vale a pena lançar-se à aventura da degustação e fazer as próprias descobertas. Ainda mais se levar em conta o que diz o pesquisador Gordon Shepherd, neurocientista, especialista em Neuroenologia: “Desde a primeira visão da garrafa de vinho, manipular a bebida na boca e, em seguida, engolir, há uma tremenda gama de sistemas sensoriais, motor e do cérebro central envolvidos em uma degustação. Todos juntos, esses processos envolvem mais atividade cerebral do que ouvir música ou resolver um problema de matemática complicado”.