Ilhéus, no Sul da Bahia, a 460 quilômetros de Salvador, é um exemplo de como a Literatura pode transformar a vida de uma cidade e registrá-la na História. Imortalizada por Jorge Amado, no romance Gabriela, Cravo e Canela, Ilhéus é hoje atração turística cultural e também gastronômica.
Não que a cidade não tenha tido importância anterior. Grande produtora de cacau, fez a riqueza dos coronéis, que representavam o poder da região. Em 1980, no entanto, a doença vassoura de bruxa dizimou a maior parte das plantações, levou à falência os poderosos e empobreceu a cidade.
Foi com o mesmo cacau e a literatura que a cidade se reergueu. Além das belas praias, três pontos turísticos ligados à obra e à vida de Jorge Amado passaram a atrair visitantes.
O Bataclan, antigo bordel da cidade, é o mais visitado deles. Ali, onde hoje funcionam um restaurante e um pequeno museu, os coronéis se divertiam quando vinham da fazenda para fazer negócios e vender cacau. Conta-se que, nos tempos áureos, os coronéis deixavam as esposas na igreja, atravessavam a rua e iam para o bar Vesúvio. Dali, por uma passagem secreta chegavam ao Bataclan, para curtir o jogo do cassino e as meninas do bordel. Os padres, que eram recompensados por eles, rezavam missas longuíssimas e ainda marcavam com sete badaladas do sino o final da cerimônia, para que os maridos avisados voltassem rapidamente ao bar.
O Bar Vesúvio está instalado em um prédio de 1910, tombado em 2001 pela Prefeitura. Tanto os donos atuais como os antigos negam que suas mulheres possam ter inspirado Jorge Amado para criar a personagem Gabriela. Os turistas no entanto não se privam de provar o quibe e os outros pratos servidos na casa.
Na calçada no Vesúvio, em uma das mesas do bar, a estátua do escritor marca a importância de Jorge Amado para o local.
No Centro Histórico, vale a visita ao Centro Cultural Jorge Amado, um museu dedicado ao escritor, instalado na casa onde ele cresceu. Ali estão reunidos, além de pertences pessoais, exemplares dos romances em português e em outros idiomas em que foram publicados. Seus livros foram editados em 55 países e traduzidos em 49 idiomas.
Chocolate de origem
Os donos de fazendas que sobreviveram às perdas econômicas determinadas pelo ataque da vassoura de bruxa e pela queda da exportação do cacau tiveram que encontrar outra forma de obter renda.
Algumas fazendas foram transformadas em pousadas ou passaram a oferecer visitas guiadas para quem quisesse conhecer o processo do plantio à colheita, à secagem nas barcaças.
Outras resolveram investir na qualidade de produção, com seleção dos frutos e elaboração de chocolates especiais. Ilhéus passou a contar com Denominação de Origem Controlada para o cacau. E muito do chocolate produzido ali ganhou a denominação de chocolate gourmet, pela qualidade do produto. As amêndoas desse cacau retomaram seu valor.
A gastronomia é farta em frutos do mar e com pratos típicos baianos, como a moqueca. Restaurantes locais, como a Casa do Moqueca, oferecem amplo cardápio de cozinha local.
Dicas
* Em junho, a cidade realiza o Festival do Cacau e do Chocolate. O chef chocolatier francês Fabrice Lenud, que mora no Brasil, visitou fazendas durante o Festival e aprovou os sabores do cacau de Ilhéus.
* A melhor época para visitar Ilhéus é fora da temporada de verão, quando recebe muitos turistas.
* No inverno, é grande o risco de chuvas.